sábado, 25 de setembro de 2010

01:57 a.m.

"Angústia é fala entupida"
Ana Cristina César



Um dia acordei calada. Não saía um som sequer da minha boca. Descobri uma faca. E dentro da faca, um corte. E dentro do corte, palavra.
Não doeu. Não foi violento. Foi sutil. A faca envolta de algodão. No lugar de sangue saíam palavras. Jorraram palavras, todas aquelas que estavam entupidas. Não dói. É sutil. Um mar de palavras. Você imaginaria um mar de palavras?

Não dói.
É sutil.

Você confia em mim?

3 comentários:

  1. Um dia, descobri o toque. E percebi o quanto a minha pele respirava. Um dia, ouvi palavras, palavras que eu acreditei. Um dia,escrevi novas palavras implorando por sentir de novo aquilo que tinha vivido.
    Uma noite, eu tive o meu pedido. Mas de manhã, tudo era vazio. E no vazio, de ser só mais um gozo de palavras e toques, criei minha ilusão.
    Uma ilusão que não pode morrer, porque só para ela, eu existo. É por isso que escrevo, pois das palavras eu existo, eu revivo todo aquele vazio, de não te ter mais ao amanhacer.
    Tenho raiva, tenho orgasmo, tenho dor nas minhas palavras. Delas sai meus sorrisos e minhas facas. Quando paro de escrever, de viver tudo o que desejo, meu sangue não cabe mais no meu corpo. Ela grita.Grita tanto que me machuca. Quando isso acontece, eu tento escrever. Quando não consigo, tento dormir. Quando não durmo, ouço o grito das minhas veias, meu coração pulsando, as lágrimas saindo e o silêncio de não ter ninguém.Dói muito. Dói muito. Não quero sentir dor. Não quero. Pego a faca na cozinha e corto minhas veias. Minhas mãos tremem, assim é mais difícil, tenho que forçar mais. O sangue, por um momento o grito cessa. Tudo torna-se silêncio novamente. Tudo vai cessar quando meus olhos se fecharem.Não quero morrer. Mas tenho medo de acordar novamente.

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